
A angústia é a parte abafada em nós. Ao tentar dizer o que é não consegue e assim, partes do nosso corpo são para ela o espelho de seu significado.
Psoriase nos cotovelos, mancha nas pernas, madrugadas escuras e desconfortantes...
É o patologia da matéria,
é a soma que arranha o véu de seda do nosso interior.
Atenham-se de Schopenhauer e seu esforço em nos dizer que qualquer tentativa de felicidade é somente um intervalo para aplacar a dor. Viver é sofrer.
E eu que penso religiosamente, não posso deixar de lado a parcela da herança da cruz do Cristo, pois sem isso, a Ele não posso seguir.
Entretanto,
há anos atrás deparei-me com algo de Albert Camus no seu "O improviso dos filósofos" onde num diálogo o Sr. Neant (devorando a comida) trata da angústia como uma virtude:
- "Ah Senhor, nada mais é consolador do que a angústia e nada é pior do que a vida privada dessa virtude. Na verdade, é impossível viver sem a angústia e é ela que faz viver sem que provoque o menor dos males. Prova disso é que os mortos não a provam."
E ele termina comendo selvagemente:
-"Angústia e mais angústia, angústia sempre Sr. Vigne, e estaremos todos salvos."
Pode a angústia nos inclinar para o bem?
Trata a angústia de uma das características do homem ético?
Fato é que ela nos faz estranhar a tudo e a todos,
inclusive a nós.