domingo, 28 de fevereiro de 2010

Palavra doente


O pensamento procura o que dizer e acaba com as fuças numa inspiração longe de acordar. Fui procurado por mim onde nenhuma raiz pude com força me alojar. O jardim das palavras tornou-se por certo tempo um terreno intimidado pelo temor dos dias sem paz.

Este mês me pus a escrever incontáveis vezes e em todas elas fui derrotado por um vazio que nem dor me causava.
Cansava de saber o motivo e me entregava ao fracasso.

Escrevia, reescrevia e apagava.
Foram estas as únicas flechas que lancei num espaço onde podia segurar sua trajetória a fim de que a culpa pudesse mudar o seu destino. Palavra que o coração não pensa, não pode ser sentida.

Quantas foram as oportunidades que visivelmente não dependeram de mim, daquilo que sei e do que poderia ensinar?
Prefiro não dizê-las. Ainda que seja remédio partilhar, fico com o vírus da tristeza inoculado no indizível, convalescendo daqueles que intencionalmente me jogaram no talvez, no quem sabe...

Vago na consciência de não querer ter tudo e a de ainda não ter tudo o quero. Peno os dias de hoje numa sensação aguda de abandono, fingindo ao me cumprimentarem que tudo está bem como se os quisesse poupar do que alguns podem chamar de uma incurável intranquila lucidez.


Peço-lhe que não me confundam com a solidão, com a ansiosidade, com a depressão e tão pouco com a dependência. Sou gente que se alegra por não molestar o tempo com o que apertadamente tento pensar.
Não é de todo ruim.

Sou amado, mas não abstratamente. O amor que tenho não foi uma invenção convenientemente criado para superar a tristeza que é causa de nossa mortalidade.
Sou amado por quem, com muita força, sustenta as minhas fraquezas que afirmam ter receio do modo como vejo o mundo.