terça-feira, 15 de setembro de 2009

De mãos estendidas, cegas e encardidas.


Os homens, tão apressados, estendem uma cortina em seus olhos.
Não querem ver as minúcias, não querem tomar ciência da dor urbana.
Em torno a si, dão-se as mãos a cerca e os arames farpados.
Para não romper o elo que segrega, aplacam os punhos do real com um escudo forjado na ilusão.

De quem são estas mãos vazias?
São tão inobserváveis mesmo sendo vistas.
Querem presentificar o que o egoísmo torna ausente, querem sentir a leveza do metal cujo valor está em alimentar o corpo faminto,
o corpo doente,
a família carente...

E estas encardidas? De quem são?
Ontem eram as que na boca trouxeram um parque de diversão, um circo que oferta o prazer do vício desgovernado,
completamente entregue,
indomável.
Hoje são as que pedem um pedaço de pão e dos espectadores, longes da contemplação, recebem a indiferença, um não.

Em cada esquina, em que cada passo que dou, trombam o cheiro de urina e o perfume, a pobreza e as migalhas no chão, o esclarecido e o louco profeta.

Todo dia destas mil mãos humanas de ontem foi hoje a cópia das mil mãos humanas de amanhã.

As mãos que enrolam as farpas de arame põem um termo a solidariedade que sem rumo cansa e magoa os olhos acortinados e enfraquecidos.

Mãos cândidas ou de luz. Se tudo isso querem, aqui não serão.
Vejo nelas os cravos de Jesus, ali, onde pende o sacrifício do mundo por detrás do fogo, da guerra, na cruz.